Olhar para trás nem sempre é retroceder.

Olhar para trás nem sempre é retroceder.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Duas faces


Essa imperfeição de estarmos perto e não sermos capazes de nos beijarmos; 
Essa coisa estranha de saber que sou fruto do seu amor e não consigo alimentá-lo, sendo você a fonte de muitas águas; 
Parece mistério insondável essa agonia de tentar te tocar, mas ser impedido por algo invisível; 
Estaríamos sugados pelo passado? Pelas histórias mal resolvidas de hoje e de ontem? Dessa ou daquela encarnação? 
 Vejo o tempo passando e a inércia me acometendo; 
Já dei passos ao seu encontro, mas você portou-se estático e desestimulado;
 Será que ainda há tempo para uns beijos e vários abraços? Hoje acaricio a face do menor, quando gostaria de ser acariciado pelo já vivido; 
Esse drama indecifrável também faz corroer as minhas entranhas, afinal não sou um ser hábil na arte de demonstrar dores e sentimentos; Nesse momento, penso em você e me desespero, pois sei que muito tempo se foi; 
Tenho coragem suficiente para não me condenar por inteiro, pois o que secou, não foi fruto do acaso e sim, de uma comodidade recíproca e imperdoável de dois corações, um fruto do outro; 
 Agora, de forma precoce, lambo as feridas e luto, a cada dia, para não repetir nas gerações vindouras, esse cenário que nos deixa tão perto e ao mesmo tempo, tão distantes;

terça-feira, 28 de julho de 2015

Amar


"AMAR.

 Como dizia Antoine Saint Exupéry, a experiência ensina-nos que amar não significa duas pessoas olharem uma para a outra e sim, ambas olharem na mesma direção. Acredito que cada um tem o seu próprio conceito de amor; afinal, ele é um sentimento puro e incondicional. Quem ama assim o faz por motivos inexplicáveis, que muitas vezes não são conhecidos nem por aqueles que amamos. 

Também tenho a plena convicção de que não há coisa mais inócua do que amar sem ser amado ou ser amado sem amar. 

O início de um amor é algo maravilhoso. Não são demonstradas as naturezas de cada um; simplesmente ama-se, em uma relação um pouco infantil, irresponsável; porém, deliciosa. O tempo passa e o amor começa a questioná-lo: para onde você o leva? Qual o objetivo de tantas expectativas e projetos? Será que estou amando na medida certa? Seria mais fácil ser amante do que marido? Pois é mais simplório dizer coisas belas de vez em quando do que ser espirituoso dias e noites a fio. 

O tempo passa e o amor começa a encontrar os obstáculos naturais da relação humana, traduzidos nas perguntas sem resposta, no ciúme do passado desconhecido, no susto de um gesto inesperado ou até na indelicadeza involuntária. 

Nesse momento, o amor encontra as adversidades humanas que nem ele, no alto de sua força, é privado de experimentar, pois o gosto amargo das primeiras decepções, os hábitos diferentes e os divergentes conceitos morais o fazem pensar o porquê de o amor, aparentemente tão doce, ser tão pretensioso e exigente quando posto à prova? 

Nesse mesmo momento, o amor senta-se e experimenta a autoflagelação, observando atônito suas próprias chagas. Tenta, a cada dor, encontrar o sentimento puro que acreditou existir lá no início infantil e irresponsável. 

Descobre, bem no fundo de seu grande amor, que o mesmo não é delírio, mas tem com ele muitas coisas em comum, pois tentar adequar-se ao amado dói demais e é algo sem lógica, pois se posso amar incondicionalmente, devo também receber igual tratamento, certo? Claro que não! O amor é incondicional, sem regras, sem normas, sem espaço para orgulho, desprezo... Ele te faz esquecer-se de comer, de passar no espelho antes de sair, de fazer a barba antes do trabalho... O amor é capaz de fazer você levantar-se pela manhã decidido a mudar, pois ontem foi sofrível demais aquela briga. No entanto, há cordas no coração que o melhor seria não fazê-las vibrar. 

Afinal, minutos depois, uma voz ao telefone e um bilhete na porta fazem o amor acordar e lembrar-lhe de que ele continua vivo, forte e mordaz como nunca!

Cláudio Andrade.